CEJIL 30 anos: Palácio da Justiça

Imagem: arte original de Yeye Torres (IG @ ye2draws)

JUAN GABRIEL VÁSQUEZ SOBRE O PALÁCIO DA JUSTIÇA

A persistência de mentiras e a proliferação de perguntas sem respostas fazem parte do legado da guerra tanto quanto os próprios crimes, e muitas vezes representam uma ferida psicológica capaz de causar sofrimento indizível. Quem entrou em contacto com os depoimentos das vítimas compreende o efeito restaurador que tem o simples acto de contar as feridas, de ver a sua conta recolhida por uma instituição legítima e sentir que, graças à conta recolhida, a sua dor recebe o reconhecimento da comunidade. As sociedades pós-conflito estão sempre lutando contra várias contradições, mas uma das mais difíceis é, sem dúvida, esta: lembrar o passado, e fazê-lo com precisão e sem censura, é a única maneira eficaz de começar a esquecer. É um dos paradoxos da violência: para esquecer o dano, nossa primeira tarefa é lembrá-lo corretamente.

Mas isso é ainda mais difícil do que parece. Evasões e negações, ofuscação ou ocultação total e, acima de tudo, esquecimento deliberado – isto é, todos os mecanismos com os quais uma sociedade, por meio da voz de qualquer pessoa, fica alheia ao sofrimento de um ser humano – roubam daqueles que sofreram uma parte importante do que ele precisa para iniciar uma possível cura. E, uma vez que um conflito civil é também o confronto de várias formas de contar uma história ao mundo, estabelecer uma verdade na qual todos se possam reconhecer torna-se um requisito indispensável de qualquer promessa de compromisso, por mais imperfeita que seja.

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